domingo, janeiro 28, 2007



Dar as Mãos



Era mais um final de dia. Ia apanhar o transporte. Às vezes pelo caminho costumo ver uma senhora, que é muito doente, a pedir. Como não gosto de dar só a moeda – afinal quem anda a pedir é um ser humano-, já há algum tempo que falava com ela. É uma pessoa que precisa muito de desabafar.

Mas, neste dia, as coisas foram diferentes. Ela estava a chorar. E bastante. Dirigi-me a ela a perguntar se precisava de ajuda. Queixava-se das pernas. Dizia que estava cheia de vergonha de estar a chorar, mas as dores eram tantas que não aguentava. As pernas dela estavam muito inchadas, vermelhas e feridas. Estivémos a falar ainda durante algum tempo e tentei ajudar o melhor possível.

No meio de toda esta situação o que mais me chocou foi ver que as pessoas passavam – e não eram poucas – e nem sequer faziam nada. Olhavam para ela, baixavam a cabeça e iam-se embora. Como se nada acontecesse. Aonde vai parar a sociedade em que vivemos? É assim tão difícil amarmo-nos uns aos outros? Deus só nos pede isto: amor. Até quem não acredita em Deus, consegue amar. É inato ao ser humano!

Se calhar, o problema está na mudança que temos de operar em nós próprios antes de amarmos os outros. Não podemos esquecer que o amor tem de ser alimentado, tem de crescer... Temos de mudar muitas vezes a nossa maneira de ser, temos de evitar certos medos, como o da entrega. Não temamos entregarmo-nos aos outros, mesmo que eles sejam desconhecidos. O amor só traz o bem, mais nada. Por que razão não fazemos da nossa vida uma luta constante pelo amor? Foi isso que Deus nos pediu. É isso que Ele nos pede e continuará a pedir. E é tão bom, apesar dos problemas e das dificuldades...

Acabei de chegar de um retiro do Fé e Missão, o grupo de jovens dos missionários combonianos. O tema do retiro foi “Dar as Mãos” e pensámos muito na importãncia do amor e da entrega ao próximo, como está expresso na parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37).
Pensámos também como, por vezes, os cristãos viram as costas a quem precisa. Ainda ontem vimos isso no peditório que fizémos por hoje ser o Dia Mundial dos Leprosos. Quantos não saíam das missas e olhavam indiferentes esta causa. Ainda por cima no dia em que a II Leitura (1 Cor 13, 4-13) fala da importância da caridade, do amor ao próximo...

6 comentários:

J disse...

Maria João,

Também já me deparei com situações como essa, de pessoas que parecem transparentesna multidão, pessoas que ninguém ama, que tem Deus dentro delas, mas que ninguém pára para o Ver e Ouvir, porque Ele revela-se em todos, e não só nos que conhecemos.

Rezo ao Pai, para que sejamos capazes de parar e dar a mão ( que tema tão bonito dar as mãos, gostei da ideia ), a quem mais precisa, dar a mão mas no sentido de entrega, de serviço, de Amor, puxando o outro para o mesmo "barco " que nós, repartindo as nossas vestes, dando lhe que comer, porque tenho a certeza que tudo isto e muito mais Cristo faria no nosso lugar.

Um grande beijinho em Cristo

silvino disse...

dsd cedo q somos habituados a "nao nos metermos na vida dos outros" .. em situações de catástrofe, as pessoas ajudam muito bem .. no dia-a-dia, parece q "todos já têm os seus próprios problemas com q se preocupar" ..

curioso q no mesmo dia em q colocaste este post, outro blog colocou um q ajuda tb a responder a essas complexa pergunta «É assim tão difícil amarmo-nos uns aos outros?»

http://catequista.blogspot.com/2007/01/caridade-9-catequese.html

sedente disse...

"Deus deu-nos um coração p amar e as mãos p servir."
Madre Teresa d Calcutá

Laurie Queiroz disse...

Boa Tarde, gostei muito de receber sua visita. Gosto sempre de vir aqui e lê os seus posts. Você deveria escrever mais. Os seu posts são todos pertinentes e nos faz refletir.
É de suma importância esse dar-se as mãos, isso nos remete aos ensinamentos de Jesus que diz que o que fizerdes ao menor dos meus é a mim que fazeis. Um grande abraço.

joaquim disse...

Por vezes a dificuldade em amarmo-nos uns aos outros advém da dificuldade em nos amarmos a nós mesmos.
Parece estranho mas a verdade é que há muitas pessoas, que embora pareça o contrário, não gostam de si mesmas e por isso não têm paz nas suas vidas que as leve a olhar para os outros com amor.
Claro que isto é uma gota de água no oceano!!!
Obrigado por me fazeres reflectir na minha vida e em como está o meu amor pelos outros.
Abraço em Cristo

simples peregrino disse...

verdade...verdadinha...